Fluxos de Pedestres em Área Urbana
Análise Estática
A concepção de um sistema de circulação deve levar em consideração fatores como a taxa de passagem de pessoas e a largura dos elementos que compõe as rotas, além, obviamente, da demanda à qual o sistema está submetido.
A taxa de passagem é a quantidade de pessoas que passam por um determinado ponto em um dado momento. Essa taxa é afetada pelo desenho e pelas características físicas da área em análise (escadas, rampas, superfícies planas), bem como pela existência de divisores de fluxo, desenho e projeção dos corrimãos, qualidade da sinalização de orientação, níveis de iluminação, condições do piso, entre outros. Combinada com a largura dos canais de passagem, é um elemento fundamental para o cálculo da capacidade do sistema. A razão entre o fluxo de pedestres esperado e a capacidade do sistema permite a determinação do nível de serviço operacional das áreas de circulação.
Escala de Fruin:
A análise estática dos fluxos de pedestres, apesar de ser amplamente utilizada em diversos setores, não leva em conta uma série de características do sistema.
Esta metodologia, apesar de ser mais simples e, por este motivo, necessitar menos tempo e recursos financeiros, tem uma série de limitações.
Recomenda-se portanto, para análises de sistemas mais complexos, que envolvem fluxos contrários de pedestres, geometrias e situações operacionais diversas, o uso de ferramentas específicas para análises dinâmicas dos pedestres.
Modelagem Dinâmica
A modelagem dinâmica do fluxo de pedestres permite a identificação de possíveis gargalos não capturados pela análise estática, pontos de adensamento indesejáveis, restrições e obstáculos que prejudiquem a circulação, garantindo a fluidez e segurança desejadas.
Microssimuladores como o Legion ou o Massmotion reproduzem a movimentação de pedestres por meio da incorporação de características individuais e sociais que explicam o seu comportamento. Os indivíduos são simulados considerando-se distribuições das características físicas (sexo, idade, condições físicas etc.) e circunstanciais (habitualidade, negociação de espaços, ansiedade etc.), específicas para cada tipo de situação, dentro de um espaço definido.
Os softwares simulam o movimento dos pedestres passo a passo, de maneira quantitativa, calculando como as pessoas interagem com os obstáculos físicos em seu ambiente e entre si. Para isso, eles utilizam o conceito do “esforço mínimo” como base para a lógica dos pedestres. Pedestres tentam minimizar suas insatisfações pessoais quando escolhem o seu próximo passo. A insatisfação é causada por fatores físicos e psicológicos que degradam a qualidade da caminhada. Os três fatores que se seguem contribuem para a insatisfação do pedestre:
- Frustração – ter que diminuir a velocidade em locais congestionados;
- Inconveniência – o esforço físico necessário para se locomover entre lugares;
- Desconforto – a percepção pessoal da falta de espaço adequado.
Decisões de navegação são tomadas pelos pedestres em três níveis:
- Estratégica – escolha do destino;
- Tática – macronavegação;
- Operacional – micronavegação.
A escolha do destino é o processo de traduzir os objetivos do Pedestre (“comprar passagem”, por exemplo) em destinos (“bilheteria”, neste caso). Muitas vezes, existem diferentes formas de se alcançar estes objetivos, ou seja, diferentes rotas.
A macronavegação é o processo através do qual um pedestre encontra a menor rota entre sua atual localização e seu próximo destino. Esta menor rota leva em consideração a geometria do percurso. É o caminho do “menor esforço” (insatisfação mínima), e serve como um orientador inicial, uma “bússola”.
Durante sua caminhada, o pedestre pode mudar sua trajetória devido a circunstâncias específicas, para fugir de congestionamentos, desviar de obstáculos, entre outras. Esta trajetória individual é o resultado da micronavegação.
Com base nesses parâmetros, os pedestres buscam obter o seu melhor próximo passo na simulação. Suas decisões são influenciadas pelo tipo de área onde se encontram, a presença de outros indivíduos ou obstáculos próximos a eles, suas particularidades de comportamento e seu desejo de chegar ao destino da melhor forma possível, a menos insatisfatória.
Com isso, os softwares conseguem reproduzir, com extrema fidelidade, o comportamento dos pedestres, permitindo-se testar projetos alternativos e avaliar o impacto de intervenções físicas ou de variações nos níveis de demanda, além de verificar as condições de segurança em momentos de emergência, testando diferentes estratégias de evacuação. A partir do modelo simulado, podem-se mensurar os níveis de conforto, satisfação, identificar riscos e gargalos para situações reais ou projetadas.
Eles são capazes, ainda, de reproduzir toda a simulação em um ambiente 3D, permitindo, assim, uma perfeita visualização do sistema e de suas condições operacionais.